A EXPERIÊNCIA DE SER FILHO DE MÃE QUE TRABALHA
FORA DE CASA: UM OLHAR SOB A PERSPECTIVA DOS
FILHOS
Maria Ivone Marchi Costa – Universidade do Sagrado Coração
Maria Zelinda Cardim – Universidade do Sagrado Coração
Daniela Cruz Henriques – Universidade do Sagrado Coração
Resumo
O presente trabalho objetivou compreender, sob o ponto de vista dos filhos, a experiência de ser filho de mãe que trabalha fora de casa por mais de seis horas diárias. Participaram do mesmo doze filhos, sendo seis do sexo feminino e seis do sexo masculino, na faixa etária de nove a doze anos. As entrevistas foram realizadas de forma individual, gravadas e transcritas. O instrumento utilizado foi um questionário de completar frases, a partir do qual, emergiram os seguintes resultados, sendo que não houve diferenças significativas entre filhos e filhas: 1) os filhos sentem a ausência da mãe afirmando que elas deveriam ter mais tempo para ficarem juntos, 2) oito filhos gostariam que suas mães reduzissem a jornada de trabalho para meio período, sendo que quatro dos filhos entrevistados destacam a importância de viver com intensidade os momentos em que a mãe se faz presente, 3) oito filhos expressaram sentimentos de solidão, tristeza e saudade pelo fato da mãe trabalhar fora; dois disseram sentir felicidade, pois a mãe supre as necessidades materiais da família; dois filhos consideram normal o fato da mãe trabalhar, não manifestando nenhum sentimento, 4) na ausência da mãe, quatro filhos ficam na companhia de avós e/ou irmãos e oito filhos com irmãos e/ou empregada, 5) nove filhos sentem a falta da mãe, atribuindo-lhe um papel fundamental na dinâmica familiar. A análise e discussão dos resultados tiveram por base a literatura consultada.
INTRODUÇÃO
A história nos mostra que a instituição familiar vem sofrendo uma série de modificações decorrentes de mudanças no contexto sócio-cultural. Contudo, a família tem procurado se adaptar às mais diversas influências, tanto no âmbito social, cultural, como psicológico e biológico em diferentes épocas e lugares.
Maria Ivone Marchi Costa – Universidade do Sagrado Coração
Maria Zelinda Cardim – Universidade do Sagrado Coração
Daniela Cruz Henriques – Universidade do Sagrado Coração
Resumo
O presente trabalho objetivou compreender, sob o ponto de vista dos filhos, a experiência de ser filho de mãe que trabalha fora de casa por mais de seis horas diárias. Participaram do mesmo doze filhos, sendo seis do sexo feminino e seis do sexo masculino, na faixa etária de nove a doze anos. As entrevistas foram realizadas de forma individual, gravadas e transcritas. O instrumento utilizado foi um questionário de completar frases, a partir do qual, emergiram os seguintes resultados, sendo que não houve diferenças significativas entre filhos e filhas: 1) os filhos sentem a ausência da mãe afirmando que elas deveriam ter mais tempo para ficarem juntos, 2) oito filhos gostariam que suas mães reduzissem a jornada de trabalho para meio período, sendo que quatro dos filhos entrevistados destacam a importância de viver com intensidade os momentos em que a mãe se faz presente, 3) oito filhos expressaram sentimentos de solidão, tristeza e saudade pelo fato da mãe trabalhar fora; dois disseram sentir felicidade, pois a mãe supre as necessidades materiais da família; dois filhos consideram normal o fato da mãe trabalhar, não manifestando nenhum sentimento, 4) na ausência da mãe, quatro filhos ficam na companhia de avós e/ou irmãos e oito filhos com irmãos e/ou empregada, 5) nove filhos sentem a falta da mãe, atribuindo-lhe um papel fundamental na dinâmica familiar. A análise e discussão dos resultados tiveram por base a literatura consultada.
INTRODUÇÃO
A história nos mostra que a instituição familiar vem sofrendo uma série de modificações decorrentes de mudanças no contexto sócio-cultural. Contudo, a família tem procurado se adaptar às mais diversas influências, tanto no âmbito social, cultural, como psicológico e biológico em diferentes épocas e lugares.
A maior liberdade sexual e o controle da procriação em face ao surgimento da pílula
anticoncepcional na década de 60, possibilitou a mulher uma conquista de espaço no mercado
de trabalho (Vaitsman, 1994). Vários aspectos vão sendo transformados e conquistados, tais
como as decisões compartilhadas sobre os filhos, bem como as questões de ordem
administrativas e financeiras da família. Os direitos e deveres vão aos poucos se tornando mais
igualitários e recíproco. As relações entre pais e filhos começam a se estruturar com mais
proximidade e mais diálogo e as expressões de afetos se tornam mais espontâneas e explícitas.
Nessas últimas décadas, a mulher emancipou-se e ganhou destaque sócio-econômico- profissional-cultural, mas para a maioria delas surgiu um conflito entre ser profissional e continuar cuidando dos filhos e do lar, uma vez que o instinto materno ainda fala mais alto do que todas as suas conquistas. Em virtude desse instinto é que ainda hoje as mulheres se sentem tão culpadas por ficarem longe de seus filhos (Tiba,1996).
Averbuch, Anele e Arlaque (1995, p. 31) afirmam que a sociedade “vê com maus olhos o “abandono” dos filhos por causa do trabalho”, suscitando nas mães que trabalham fora o sentimento de culpa, “acreditando que qualquer problema apresentado pelos filhos deve-se diretamente à sua ausência”.
Nesse processo de reparação movido pela culpa, desenvolve-se uma proteção que acaba por desproteger. A mãe que faz tudo para o filho não sofrer privações e o atende em todas as suas solicitações, torna-o cada vez mais nutrido no princípio do prazer, podendo o mesmo ter dificuldades de lidar com limites e frustrações, como também dificuldades na aquisição de sua autonomia diante das vicissitudes da vida, tornando-se imaturo emocionalmente, pois quase tudo é feito pelos pais. Quando o(a) filho(a) está distante destes e tem que dar conta de resolver questões que lhe são pertinentes, poderá sentir-se frágil e inseguro, gerando ansiedade por não encontrar alguém que faça por ele.
Encontramos na literatura várias pesquisas que consideram a maneira como a mulher que trabalha fora age e sente-se em seu cotidiano e como concilia a vida profissional com a vida familiar, destacando em seus resultados especialmente o sentimento de culpa da mesma pelo pouco tempo que passa com os filhos. Poucas, porém, são as pesquisas que abordam a experiência de ser filho de mãe que trabalha fora de casa.
As psicólogas clínicas freqüentemente se deparam com sintomas que representam formas de denúncia de sofrimentos que são trazidos pela criança ou pelo adolescente e ou família quando se passa a conhecer de uma maneira mais profunda a dinâmica familiar que esta criança e ou adolescente está inserida. Constata-se que na maioria das vezes as raízes de tal sofrimento estão relacionadas com a forma com que a família, especialmente a mãe, significa e vivencia a questão dela trabalhar fora de casa. Observa-se que grande parte das mães que trabalham fora de casa e que diariamente ficam muito tempo longe dos seus filhos, deixando-os sob os cuidados de empregados, avós ou mesmo sozinhos, significam essa ausência de forma tal, que passam a vivenciar sentimentos de culpa e normalmente, numa tentativa de reparação, a mãe e ou os pais passam a manter uma relação de super proteção com o(a) filho(a), podendo desenvolver uma relação muitas vezes patológica e geradora de uma diversidade de sintomas, dependendo da forma como o(a) filho (a) significa e vivencia essa relação.
Portanto, julgamos ser de considerável importância pesquisarmos este tema, no sentido de viabilizarmos um trabalho preventivo junto às famílias na medida em que teremos contato com a forma como os filhos significam e vivenciam tal fato, possibilitando, através dessas informações, desconstruir muitas psicopatologias que acreditamos ter em sua base muitas crenças que permeiam o imaginário das mães e que são uma das possíveis fontes desencadeadoras de sentimentos de culpa.
OBJETIVOS
Compreender como os filhos experienciam o fato de ter mãe que trabalha fora por mais de seis horas diárias.
Nessas últimas décadas, a mulher emancipou-se e ganhou destaque sócio-econômico- profissional-cultural, mas para a maioria delas surgiu um conflito entre ser profissional e continuar cuidando dos filhos e do lar, uma vez que o instinto materno ainda fala mais alto do que todas as suas conquistas. Em virtude desse instinto é que ainda hoje as mulheres se sentem tão culpadas por ficarem longe de seus filhos (Tiba,1996).
Averbuch, Anele e Arlaque (1995, p. 31) afirmam que a sociedade “vê com maus olhos o “abandono” dos filhos por causa do trabalho”, suscitando nas mães que trabalham fora o sentimento de culpa, “acreditando que qualquer problema apresentado pelos filhos deve-se diretamente à sua ausência”.
Nesse processo de reparação movido pela culpa, desenvolve-se uma proteção que acaba por desproteger. A mãe que faz tudo para o filho não sofrer privações e o atende em todas as suas solicitações, torna-o cada vez mais nutrido no princípio do prazer, podendo o mesmo ter dificuldades de lidar com limites e frustrações, como também dificuldades na aquisição de sua autonomia diante das vicissitudes da vida, tornando-se imaturo emocionalmente, pois quase tudo é feito pelos pais. Quando o(a) filho(a) está distante destes e tem que dar conta de resolver questões que lhe são pertinentes, poderá sentir-se frágil e inseguro, gerando ansiedade por não encontrar alguém que faça por ele.
Encontramos na literatura várias pesquisas que consideram a maneira como a mulher que trabalha fora age e sente-se em seu cotidiano e como concilia a vida profissional com a vida familiar, destacando em seus resultados especialmente o sentimento de culpa da mesma pelo pouco tempo que passa com os filhos. Poucas, porém, são as pesquisas que abordam a experiência de ser filho de mãe que trabalha fora de casa.
As psicólogas clínicas freqüentemente se deparam com sintomas que representam formas de denúncia de sofrimentos que são trazidos pela criança ou pelo adolescente e ou família quando se passa a conhecer de uma maneira mais profunda a dinâmica familiar que esta criança e ou adolescente está inserida. Constata-se que na maioria das vezes as raízes de tal sofrimento estão relacionadas com a forma com que a família, especialmente a mãe, significa e vivencia a questão dela trabalhar fora de casa. Observa-se que grande parte das mães que trabalham fora de casa e que diariamente ficam muito tempo longe dos seus filhos, deixando-os sob os cuidados de empregados, avós ou mesmo sozinhos, significam essa ausência de forma tal, que passam a vivenciar sentimentos de culpa e normalmente, numa tentativa de reparação, a mãe e ou os pais passam a manter uma relação de super proteção com o(a) filho(a), podendo desenvolver uma relação muitas vezes patológica e geradora de uma diversidade de sintomas, dependendo da forma como o(a) filho (a) significa e vivencia essa relação.
Portanto, julgamos ser de considerável importância pesquisarmos este tema, no sentido de viabilizarmos um trabalho preventivo junto às famílias na medida em que teremos contato com a forma como os filhos significam e vivenciam tal fato, possibilitando, através dessas informações, desconstruir muitas psicopatologias que acreditamos ter em sua base muitas crenças que permeiam o imaginário das mães e que são uma das possíveis fontes desencadeadoras de sentimentos de culpa.
OBJETIVOS
Compreender como os filhos experienciam o fato de ter mãe que trabalha fora por mais de seis horas diárias.
METODOLOGIA
Esta pesquisa de caráter qualitativo foi realizada com 12 (doze) filhos(as) cujas mães trabalham fora de casa por mais que seis horas diárias. Foram entrevistados 6 (seis) filhos e 6 (seis) filhas, na faixa etária de 9 a 12 anos (nove a doze anos). Utilizou-se o questionário de completar frases, composto por oito sentenças que foram distribuídas da seguinte forma: 1) Para mim as mães que trabalham fora ... 2) As famílias que tem mãe que trabalha fora ... 3) A minha mãe trabalha fora, por isso ... 4) Quando minha mãe está trabalhando fora, eu fico na companhia de ... 5) Em relação a isso, eu penso ... 6) O fato de minha mãe trabalhar fora me faz sentir ... 7) Sinto que pelo fato de minha mãe trabalhar fora a minha família ... 8) Se eu pudesse mudar alguma coisa em relação a isso eu ... O questionário facilitou a expressão da experiência da criança em relação a ter mãe que trabalha fora. As entrevistas foram realizadas individual e pessoalmente com os filhos, sendo gravadas em fita cassete, transcritas na íntegra e analisadas qualitativamente. A análise e discussão dos resultados tiveram por base a literatura consultada. Durante o questionário, as pesquisadoras realizaram eventuais questionamentos, quando estes se fizeram necessários, para esclarecimentos e ou ampliações sobre as sentenças estabelecidas a priori. Posteriormente, realizou-se a análise temática das respostas, visando apreender os fenômenos revelados por elas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os dados obtidos, observou-se que os filhos sentem a ausência da mãe afirmando que elas deveriam ter mais tempo para ficarem juntos, podendo assim acompanhar os afazeres escolares e juntos desenvolverem atividades lúdicas. Segundo Peters (1999, p. 69), “a ênfase no relacionamento mãe-filho domina as atitudes maternas na forma de ‘teoria de vínculo afetivo’”. Esta teoria, desenvolvida na década de 50 por John Bowlby, afirmava que os filhos separados das mães por longo período em hospitais ou orfanatos tornavam-se gravemente deprimidos. Posteriores pesquisas comprovaram que a depressão não era causada somente pela privação materna, mas por outros fatores como: crise familiar, falta de atenção de um adulto, ambiente estranho etc. Lerner (1980) afirma que as crianças, quando maiores, compreendem melhor o porquê da mãe trabalhar e é capaz de suportar suas ausências e pode relacionar o esforço e dedicação profissional da mãe com sua crescente capacidade de realizar tarefas na escola, que exigem persistência e execução de um planejamento. Um exemplo desta afirmação é a resposta de um dos entrevistados desta pesquisa que disse sentir a ausência da mãe, mas se propõe a ajudá-la a resolver os seus problemas realizando as tarefas escolares no horário certo.
Constatou-se que a maioria dos filhos (8) gostariam que suas mães reduzissem a jornada de trabalho para meio período, quando estes estão na escola, podendo, assim, gozar da presença da mãe no período em que se encontra em casa. Quatro dos filhos entrevistados destacam a importância de viver com intensidade os momentos em que a mãe se faz presente, conversando, abraçando, brincando, dando atenção, ajudando nos afazeres da casa, divertindo-se, etc. A esse respeito Lerner afirma que:
a qualidade desse contato, que não precisa ser de horas diárias, mas pode ser ocasional, é uma experiência rica para a criança. A mãe que fica menos tempo com o filho deve procurar viver com alegria os momentos que passam juntos. Quando chega excessivamente cansada, não deve se obrigar a aceitar qualquer imposição da criança, como um castigo que tem de suportar. A criança poderá esperar e depois de alguns momentos, será bem mais fácil fazê-lo prazerosamente (1980, p. 184-185).
Peters (1999, p. 28) relata que as mães que não trabalham, muitas delas insatisfeitas por terem anulado os sonhos profissionais, podem estar menos disponíveis emocionalmente que as mães que trabalham fora. Este mesmo autor cita Linda Carter, diretora do New York University Center for Family Therapy (Centro de Terapia Familiar de Nova York) que afirma : “se uma mãe que deseja ou precisa trabalhar é frustrada nisso, é uma mãe menos disponível. Se trabalhar, a criança aprenderá a ser mais autoconfiante e também a entender que a mãe voltará”. A partir da afirmação dos autores e dos dados coletados na entrevista, percebeu-se a necessidade de uma reflexão sobre o sentimento de culpa que muitas mães sentem por não terem tempo para estar com seus filhos. Tanto o autor como as crianças evidenciam a importância da qualidade e intensidade do pouco tempo que passam juntos, desconstruindo a crença que permeia o imaginário de muitas mães que acreditam que deveriam dedicar mais tempo aos filhos. Esta crença pode ser uma das possíveis fontes desencadeadoras de sentimentos de culpa. É um fato que muitas mães presentes fisicamente o dia todo juntos aos seus filhos são emocionalmente distantes, ou seja, é melhor prezar pela qualidade do tempo do que pela quantidade.
Esta pesquisa de caráter qualitativo foi realizada com 12 (doze) filhos(as) cujas mães trabalham fora de casa por mais que seis horas diárias. Foram entrevistados 6 (seis) filhos e 6 (seis) filhas, na faixa etária de 9 a 12 anos (nove a doze anos). Utilizou-se o questionário de completar frases, composto por oito sentenças que foram distribuídas da seguinte forma: 1) Para mim as mães que trabalham fora ... 2) As famílias que tem mãe que trabalha fora ... 3) A minha mãe trabalha fora, por isso ... 4) Quando minha mãe está trabalhando fora, eu fico na companhia de ... 5) Em relação a isso, eu penso ... 6) O fato de minha mãe trabalhar fora me faz sentir ... 7) Sinto que pelo fato de minha mãe trabalhar fora a minha família ... 8) Se eu pudesse mudar alguma coisa em relação a isso eu ... O questionário facilitou a expressão da experiência da criança em relação a ter mãe que trabalha fora. As entrevistas foram realizadas individual e pessoalmente com os filhos, sendo gravadas em fita cassete, transcritas na íntegra e analisadas qualitativamente. A análise e discussão dos resultados tiveram por base a literatura consultada. Durante o questionário, as pesquisadoras realizaram eventuais questionamentos, quando estes se fizeram necessários, para esclarecimentos e ou ampliações sobre as sentenças estabelecidas a priori. Posteriormente, realizou-se a análise temática das respostas, visando apreender os fenômenos revelados por elas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os dados obtidos, observou-se que os filhos sentem a ausência da mãe afirmando que elas deveriam ter mais tempo para ficarem juntos, podendo assim acompanhar os afazeres escolares e juntos desenvolverem atividades lúdicas. Segundo Peters (1999, p. 69), “a ênfase no relacionamento mãe-filho domina as atitudes maternas na forma de ‘teoria de vínculo afetivo’”. Esta teoria, desenvolvida na década de 50 por John Bowlby, afirmava que os filhos separados das mães por longo período em hospitais ou orfanatos tornavam-se gravemente deprimidos. Posteriores pesquisas comprovaram que a depressão não era causada somente pela privação materna, mas por outros fatores como: crise familiar, falta de atenção de um adulto, ambiente estranho etc. Lerner (1980) afirma que as crianças, quando maiores, compreendem melhor o porquê da mãe trabalhar e é capaz de suportar suas ausências e pode relacionar o esforço e dedicação profissional da mãe com sua crescente capacidade de realizar tarefas na escola, que exigem persistência e execução de um planejamento. Um exemplo desta afirmação é a resposta de um dos entrevistados desta pesquisa que disse sentir a ausência da mãe, mas se propõe a ajudá-la a resolver os seus problemas realizando as tarefas escolares no horário certo.
Constatou-se que a maioria dos filhos (8) gostariam que suas mães reduzissem a jornada de trabalho para meio período, quando estes estão na escola, podendo, assim, gozar da presença da mãe no período em que se encontra em casa. Quatro dos filhos entrevistados destacam a importância de viver com intensidade os momentos em que a mãe se faz presente, conversando, abraçando, brincando, dando atenção, ajudando nos afazeres da casa, divertindo-se, etc. A esse respeito Lerner afirma que:
a qualidade desse contato, que não precisa ser de horas diárias, mas pode ser ocasional, é uma experiência rica para a criança. A mãe que fica menos tempo com o filho deve procurar viver com alegria os momentos que passam juntos. Quando chega excessivamente cansada, não deve se obrigar a aceitar qualquer imposição da criança, como um castigo que tem de suportar. A criança poderá esperar e depois de alguns momentos, será bem mais fácil fazê-lo prazerosamente (1980, p. 184-185).
Peters (1999, p. 28) relata que as mães que não trabalham, muitas delas insatisfeitas por terem anulado os sonhos profissionais, podem estar menos disponíveis emocionalmente que as mães que trabalham fora. Este mesmo autor cita Linda Carter, diretora do New York University Center for Family Therapy (Centro de Terapia Familiar de Nova York) que afirma : “se uma mãe que deseja ou precisa trabalhar é frustrada nisso, é uma mãe menos disponível. Se trabalhar, a criança aprenderá a ser mais autoconfiante e também a entender que a mãe voltará”. A partir da afirmação dos autores e dos dados coletados na entrevista, percebeu-se a necessidade de uma reflexão sobre o sentimento de culpa que muitas mães sentem por não terem tempo para estar com seus filhos. Tanto o autor como as crianças evidenciam a importância da qualidade e intensidade do pouco tempo que passam juntos, desconstruindo a crença que permeia o imaginário de muitas mães que acreditam que deveriam dedicar mais tempo aos filhos. Esta crença pode ser uma das possíveis fontes desencadeadoras de sentimentos de culpa. É um fato que muitas mães presentes fisicamente o dia todo juntos aos seus filhos são emocionalmente distantes, ou seja, é melhor prezar pela qualidade do tempo do que pela quantidade.
A maioria dos filhos entrevistados (8) expressou sentimentos de solidão, tristeza e
saudade pelo fato da mãe trabalhar fora. Dois filhos disseram sentir felicidade porque, com o
trabalho, a mãe supre as necessidades materiais da família. A minoria (2) disse estar acostumada
com a ausência da mãe, considerando normal o fato dela trabalhar, não manifestando nenhum
sentimento. Cooper e Lewis (2000) afirmam que pesquisas recentes começaram a perguntar às
próprias crianças o que elas sentem a respeito das mães trabalharem. Longe de se considerarem
abandonadas, crianças com até 10 ou 12 anos dizem que gostam de chegar, usualmente com
amigos, a uma casa ‘vazia’ na qual elas fazem o que querem. As crianças também podem ter
satisfação com o trabalho dos pais. Estes autores ainda afirmam que a ansiedade e a culpa
sentida por algumas mães, associadas à crença de que as crianças irão sofrer se ambos os pais
trabalharem, são injustificadas. Contudo, as crianças declaram que se sentem menos felizes com
o fato de os pais trabalharem até tarde ou em fins de semana. Isto não significa que ambos não
devem trabalhar, mas que eles também necessitam de tempo fora do trabalho para que tenham
vidas equilibradas.
De acordo com a pesquisa realizada, verificou-se nos filhos entrevistados a existência de um conflito entre sentimentos que expressam admiração e valorização pelo fato da mãe trabalhar fora e sentimentos de tristeza, solidão, medo e saudade. Segundo Lerner:
a mãe pode ajudar a criança a elaborar estes sentimentos conflituosos, afirmando que: “o fato de a mãe trabalhar constitui uma situação que o filho encontra como parte do contexto de sua vida, a qual tem que se adaptar, e esta aceitação depende grande parte da maneira pela qual a mãe se conduz e de como harmoniza os diferentes aspectos de sua atividade. Pode envolver vantagens e desvantagens, representar um estímulo ou uma frustração, mas é um aspecto real que, se bem utilizado, pode enriquecer o seu processo de desenvolvimento (1980, p. 185).
A tarefa desta harmonização não compete somente à mãe, mas também ao pai, enquanto ele é chamado a exercer seu papel de cuidador e não apenas de provedor. É necessária uma redefinição dos papéis familiares, onde ambos devem colaborar, participando de tarefas cotidianas, especialmente na educação dos filhos (Almeida et al, 2003).
Os dados coletados demonstraram que, na ausência da mãe, a maioria dos filhos ficam na companhia de parentes (avós e irmãos) e/ou empregada, sendo que 4 filhos com avós e/ou irmãos e 8 filhos, com irmãos e/ou empregada. Destes 8 filhos, 5 consideram ruim ficar somente na companhia de irmãos e/ou empregada, pois encontram dificuldades na realização dos afazeres escolares. Os que ficam com os avós e/ou irmãos afirmam que estes cumprem o papel de cuidadores. Peters (1999) afirma que o fato da mãe trabalhar fora de casa permite ao filho estabelecer outras relações íntimas com outros adultos que podem tanto difundir como reforçar o amor materno. Cooper e Lewis (2000) por sua vez, diz que os filhos de casais que trabalham fora tendem a ser mais independentes e competentes em conseqüência da formação de elos com um maior número de pessoas.
De acordo com a pesquisa realizada, verificou-se nos filhos entrevistados a existência de um conflito entre sentimentos que expressam admiração e valorização pelo fato da mãe trabalhar fora e sentimentos de tristeza, solidão, medo e saudade. Segundo Lerner:
a mãe pode ajudar a criança a elaborar estes sentimentos conflituosos, afirmando que: “o fato de a mãe trabalhar constitui uma situação que o filho encontra como parte do contexto de sua vida, a qual tem que se adaptar, e esta aceitação depende grande parte da maneira pela qual a mãe se conduz e de como harmoniza os diferentes aspectos de sua atividade. Pode envolver vantagens e desvantagens, representar um estímulo ou uma frustração, mas é um aspecto real que, se bem utilizado, pode enriquecer o seu processo de desenvolvimento (1980, p. 185).
A tarefa desta harmonização não compete somente à mãe, mas também ao pai, enquanto ele é chamado a exercer seu papel de cuidador e não apenas de provedor. É necessária uma redefinição dos papéis familiares, onde ambos devem colaborar, participando de tarefas cotidianas, especialmente na educação dos filhos (Almeida et al, 2003).
Os dados coletados demonstraram que, na ausência da mãe, a maioria dos filhos ficam na companhia de parentes (avós e irmãos) e/ou empregada, sendo que 4 filhos com avós e/ou irmãos e 8 filhos, com irmãos e/ou empregada. Destes 8 filhos, 5 consideram ruim ficar somente na companhia de irmãos e/ou empregada, pois encontram dificuldades na realização dos afazeres escolares. Os que ficam com os avós e/ou irmãos afirmam que estes cumprem o papel de cuidadores. Peters (1999) afirma que o fato da mãe trabalhar fora de casa permite ao filho estabelecer outras relações íntimas com outros adultos que podem tanto difundir como reforçar o amor materno. Cooper e Lewis (2000) por sua vez, diz que os filhos de casais que trabalham fora tendem a ser mais independentes e competentes em conseqüência da formação de elos com um maior número de pessoas.
Verificou-se como os filhos experienciam a dinâmica familiar em relação à mãe
trabalhar fora de casa e constataram que a maioria (9) sente a falta da mãe, atribuindo-lhe um
papel fundamental na dinâmica familiar. Um dos filhos entrevistados relatou que a família fica
incompleta quando a mãe não está; outro filho enfatizou que a família fica desunida e outro
ainda, que sua ausência é motivo de distanciamento entre os familiares. Com estes dados,
percebe-se, ainda hoje, que mesmo com a emancipação feminina no mundo do trabalho, a mãe
continua sendo para os filhos o polo de união da família.
Verificou-se também, com os resultados, que não houve diferenças significativas entre filhos e filhas quanto a experiência de ter mãe que trabalha fora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa possibilitou uma reflexão sobre como os filhos que têm mãe que trabalha fora mais de seis horas diárias, experienciam este fato. Porém, percebe-se a necessidade de continuidade de novas pesquisas que utilizem instrumentos que favoreçam a emergência de conteúdos mais profundos da subjetividade da criança.
Os filhos entrevistados colocam a mãe como o referencial maior na dinâmica familiar, solicitando uma constante presença em seu cotidiano, fato que pode contribuir para o sentimento de culpa materno. Para amenizar as solicitações dos filhos quanto à presença materna, é fundamental que o pai passe a exercer a função paterna com mais eficácia, sendo não apenas provedor, mas especialmente cuidador, havendo assim, uma redefinição dos papéis familiares.
Palavras Chaves: trabalho, mãe, filho
BIBLIOGRAFIA:
ALMEIDA, A. et al. Ser Pai: A Função Paterna e o Princípio de Realidade. Pensando Famílias, ano 5, n. 5, p. 69-74, 2003
AVERBUCH, A. R., ANELE, A. M., ARLAQUE, P. C. Mulher e trabalho: aspectos do cotidiano da vida de mulheres que trabalham no espaço público. PSICO. Porto Alegre, v. 26, n. 1, p. 29-40, 1995.
COOPER, C. L., LEWIS, S. E agora, trabalho ou família?: pais e mães que trabalham fora aprendem como enfrentar as sobrecargas profissionais e familiares do dia-a-dia. 1a ed. São Paulo: Tâmisa Editora, 2000.
LERNER, L. Criança também é gente. 3. ed. Rio de Janeiro: Block, 1980.
PETERS, J. K. Mães que trabalham fora: segredos para conciliar a vida profissional e familiar. São Paulo: Mandarim, 1999.
TIBA, I. Disciplina: O limite na medida certa. São Paulo: Gomes, 1996.
VAITSMAN, G. Flexíveis e Plurais: Identidade, Casamento e Família em circunstâncias pós- modernas. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
Verificou-se também, com os resultados, que não houve diferenças significativas entre filhos e filhas quanto a experiência de ter mãe que trabalha fora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa possibilitou uma reflexão sobre como os filhos que têm mãe que trabalha fora mais de seis horas diárias, experienciam este fato. Porém, percebe-se a necessidade de continuidade de novas pesquisas que utilizem instrumentos que favoreçam a emergência de conteúdos mais profundos da subjetividade da criança.
Os filhos entrevistados colocam a mãe como o referencial maior na dinâmica familiar, solicitando uma constante presença em seu cotidiano, fato que pode contribuir para o sentimento de culpa materno. Para amenizar as solicitações dos filhos quanto à presença materna, é fundamental que o pai passe a exercer a função paterna com mais eficácia, sendo não apenas provedor, mas especialmente cuidador, havendo assim, uma redefinição dos papéis familiares.
Palavras Chaves: trabalho, mãe, filho
BIBLIOGRAFIA:
ALMEIDA, A. et al. Ser Pai: A Função Paterna e o Princípio de Realidade. Pensando Famílias, ano 5, n. 5, p. 69-74, 2003
AVERBUCH, A. R., ANELE, A. M., ARLAQUE, P. C. Mulher e trabalho: aspectos do cotidiano da vida de mulheres que trabalham no espaço público. PSICO. Porto Alegre, v. 26, n. 1, p. 29-40, 1995.
COOPER, C. L., LEWIS, S. E agora, trabalho ou família?: pais e mães que trabalham fora aprendem como enfrentar as sobrecargas profissionais e familiares do dia-a-dia. 1a ed. São Paulo: Tâmisa Editora, 2000.
LERNER, L. Criança também é gente. 3. ed. Rio de Janeiro: Block, 1980.
PETERS, J. K. Mães que trabalham fora: segredos para conciliar a vida profissional e familiar. São Paulo: Mandarim, 1999.
TIBA, I. Disciplina: O limite na medida certa. São Paulo: Gomes, 1996.
VAITSMAN, G. Flexíveis e Plurais: Identidade, Casamento e Família em circunstâncias pós- modernas. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
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